1.
Situação do Autor
Biografia de Émile Durkheim:
Émile Durkheim (1858-1917) foi sociólogo
francês. É considerado o pai da sociologia moderna. É criador da
teoria da coesão social. Junto com Karl Marx e Max Weber, formam um
dos pilares dos estudos sociológicos.
Émile Durkheim (1858-1915) nasceu na região de
Lorraine, na França, no dia 15 de abril de 1858. Descendente de
família judia, estudou filosofia na Escola Normal Superior de Paris.
O fato de Durkheim não ter seguido os preceitos da cultura judaica
pode ter influenciado o teor de seus estudos e suas preocupações
religiosas, preferindo analisá-las desde o ponto de vista social.
Estudou as teorias de August Comte e Herbert Spencer, o que fez com
que conferisse uma matriz científica às suas teorias.
Durkheim escreveu obras que foram definitivas nos
rumos dos estudos sociológicos. No livro "Da Divisão do
Trabalho Social" (1893), ele estabeleceu as bases da sociedade
comparando a um organismo vivo, onde cada parte funcionava como um
órgão biológico que agiria de forma dependente. Assim, numa
sociedade "doente", que ele denominava de anomia, a cura
para o melhor funcionamento social seria a solidariedade orgânica.
No livro "As Regras do Método Sociológico"
publicado em 1895, estabeleceu as bases para a sociologia como
ciência. Em sua obra "O suicídio" (1897), avaliou que o
maior nível de integração social estava ligado aos índices de
suicídio, que seriam maiores quanto mais frágeis fossem os laços
sociais. Também pesquisou assuntos sobre religião, através do
livro "Formas Elementares da Vida Religiosa", publicado em
1912.
Émile Durkheim morreu no dia 15 de novembro de
1917. Encontra-se enterrado no cemitério de Montparnasse, em Paris.
Obras de Émile Durkheim
Da Divisão do Trabalho Social, 1893
As Regras do Método Sociológico, 1895
O Suicídio, 1897
Formas Elementares da Vida Religiosa, 1912
As Regras do Método Sociológico, 1895
O Suicídio, 1897
Formas Elementares da Vida Religiosa, 1912
1.1.
Marcos sociais
Na
adolescência, o jovem David Émile presenciou uma série de
acontecimentos que marcaram decisivamente todos os franceses em geral
e a ele próprio em particular: a 1º de setembro de 1870, a derrota
de Sedan; a 28 de janeiro de 1871, a capitulação diante das tropas
alemãs; de 18 de março a 28 de maio, a insurreição da Comuna de
Paris; a 4 de setembro, a proclamação da que ficou conhecida como
III República, com a formação do governo provisório de Thiers até
a votação da Constituição de 1875 e a eleição do seu primeiro
presidente (Mac-Mahon). Thiers fora encarregado tanto de assinar o
tratado de Frankfurt como de reprimir os communards, até à
liquidação dos últimos remanescentes no "muro dos federados".
Por outro lado, a vida de David Émile foi marcada pela disputa
franco-alemã: em 1871, com a perda de uma parte da Lorena, sua
terra natal tornou-se uma cidade fronteiriça; com o advento da
Primeira Guerra Mundial, ele viu partir para o f front numerosos
discípulos seus, alguns dos quais não regressaram, inclusive seu
filho Andrès, que parecia destinado a seguir a carreira paterna.
No
entretempo, Durkheim assistiu e participou de acontecimentos
marcantes e que se refletem diretamente nas suas obras, ou pelo menos
nas suas aulas. O ambiente é por vezes assinalado como sendo o
“vazio moral da III República”2,
marcado seja pelas conseqüências diretas da derrota francesa e das
dívidas humilhantes da guerra, seja por uma série de medidas de
ordem política, dentre as quais duas merecem destaque especial, pelo
rompimento com as tradições que elas representam. A primeira e a
chamada lei Naquet, que instituiu o divórcio na França após
acirrados debates parlamentares, que se prolongaram de 1882 a 84. A
segunda é representada pela instrução laica, questão levantada na
Assembléia em 1879, por Jules Ferry, encarregado de implantar o novo
sistema, como Ministro da Instrução Pública, em 1882. Foi quando a
escola se tornou gratuita para todos, obrigatória dos 6 aos 13 anos,
além de ficar proibido formalmente o ensino da religião.3
O vazio correspondente à ausência do ensino de religião na escola
pública tenta-se preencher com uma pregação patriótica
representada pela que ficou conhecida como “instrução moral e
cívica”.
Ao
mesmo tempo que essas questões políticas e sociais balizavam o seu
tempo, uma outra questão de natureza econômica e social não
deixava de apresentar continuadas repercussões políticas e o que se
denominava questão
social,
ou seja, as disputas e conflitos decorrentes da oposição entre o
capital e o trabalho, vale dizer, entre patrão e empregado, entre
burguesia e proletariado. Um marco dessa questão foi a criação, em
1895, da Confédération
Générale du Travail (CGT).
A bipolarização social preocupava profundamente tanto a políticos
como a intelectuais da época, e sua interveniência no quadro
político e social do chamado tournant du siècle não deixava de ser
perturbadora.
Com
efeito, apesar dos traumas políticos e sociais que assinalam o
início da III República, o final do século XIX e começo do século
XX correspondem a uma certa sensação de euforia, de progresso e de
esperança no futuro. Se bem que os êxitos econômicos não fossem
de tal ordem que. pudessem fazer esquecer a sucessão de crises
(1900-01, 1907, 1912-13) e os problemas colocados pela concentração,
registrava-se uma série de inovações tecnológicas que provocavam
repercussões imediatas no campo econômico. É a era do aço e da
eletricidade que se inaugura, junto com o início do aproveitamento
do petróleo como fonte de energia ao lado da eletricidade que se
notabiliza por ser uma energia “limpa”, em contraste com a
negritude do carvão, cuja era declinava e que, ao lado da
telegrafia, marcam o início do que se convencionou chamar de
“segunda revolução industrial”, qual seja, a do motor de
combustão interna e do dínamo.
Além
dessas invenções, outras se sucediam. Embora menos importantes,
eram sem dúvida mais espetaculares, como o avião, o submarino, o
cinema, o automóvel, além das rotativas e do linotipo que tornaram
as indústrias do jornal e do livro capazes de produções baratas e
de atingir um público cada vez maior. Tudo isso refletia um avanço
da ciência, marcada pelo advento da teoria dos quanta, da
relatividade, da radioatividade, da teoria atômica, além do
progresso em outros setores mais diretamente voltados à aplicação,
como a das ondas hertzianas, das vitaminas, do bacilo de Koch, das
vacinas de Pasteur etc.
Não
é pois de se admirar que vigorasse um estilo de vida belle époque,
com a Exposição Universal. comemorativa do centenário da
revolução, seguida da exposição de Paris, simultânea com a
inauguração do métro
em 1900. O último quartel do século fora marcado, além da
renovação da literatura, do teatro e da música, pelo advento do
impressionismo, que tirou a arte pictórica dos ambientes fechados,
dos grandes acontecimentos e das grandes personalidades da
monumentalidade, enfim para se voltar aos grandes espaços abertos,
para as cenas e os homens comuns para o cotidiano.
Porque
este homem comum é que se vê diante dos grandes problemas
representados pelo pauperismo, pelo desemprego, pelos grandes fluxos
migratórios. Ele é objeto de preocupação do movimento operário,
que inaugura, com a fundação da CGT no Congresso de Limoges, uma
nova era do sindicalismo, que usa a greve como instrumento de
reivindicação econômica e não mais exclusivamente política. É
certo que algumas conquistas se sucedem, com os primeiros passos do
seguro social e da legislação trabalhista, sobretudo na Alemanha de
Bismarck.
Mas
se objetivam também medidas tendentes a aumentar a produtividade do
trabalho, como o “taylorismo” (1912). Também a Igreja se volta
para o problema, com a encíclica Rerum
Novarum
(1891), de Leão XIII, que difunde a idéia de que o proletariado
poderia deixar de ser revolucionário na medida em que se tornasse
proprietário. É a chamada “desproletarização” que se
objetiva, tentada através de algumas "soluções milagrosas",
tais como o cooperativismo, corporativismo,, participação nos
lucros etc. Pretende-se, por várias maneiras, contornar a questão
social e eliminar a luta de classes, espantalhos do
industrialismo.
Enfim,
estamos diante do “espírito moderno”. Na École
Normale Supérieure,
o jovem David Émile tivera oportunidade de assistir às aulas de
Boutroux, que assinala os principais traços característicos dessa
época: progresso da ciência (não mais contemplativa, mas agora
transformadora da realidade), progresso da democracia (resultante do
voto secreto e da crescente participação popular nos negócios
públicos), além da generalização e extraordinário progresso da
instrução e do bem-estar. Como corolário desses traços, o mestre
neokantiano ressalta as correntes de idéias derivadas, cuja difusão
viria encontrar eco na obra de Durkheim: aspira-se à constituição
de uma moral realmente científica (o progresso moral equiparando-se
ao progresso científico); a moral viria a ser considerada como um
setor da ciência das condições das sociedades humanas (a moral é
ela própria um fato social) ; a moral se confunde enfim com
civilização o povo mais civilizado é o que tem mais direitos e o
progresso moral consiste no domínio crescente dos povos cuja cultura
seja a mais avançada.4
Não
é pois de se admirar que essa época viesse também a assistir a uma
nova vaga de colonialismo, não mais o colonialismo da caravela ou do
barco a vapor, mas agora o colonialismo do navio a diesel,
da locomotiva, do aeroplano, do automóvel e de toda a tecnologia
implícita e eficiente, além das novas manifestações morais e
culturais. Enfim, Durkheim foi um homem que assistiu ao advento e à
expansão do neocapitalismo, ou do capitalismo monopolista. Ele não
resistiu aos novos e marcantes acontecimentos políticos
representados pela Primeira Guerra Mundial, com o aparecimento
simultâneo tanto do socialismo na Rússia como da nova roupagem do
neocapitalismo, representada pelo Welfare
State.
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